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O desejo e a frustração inevitável
Sim, por muitas vezes você vai desejar não ter feito algo, não gostar de algo, não se sentir apegado a certos padrões. Sim, por muitas vezes seu amor vai embora, vai te deixar logo depois de ter se dado conta de que você não era tudo para ele, e você vai ter que lidar com o puro vazio deixado por ele. Sim, a vida por vezes vai parecer fazer mais sentido quando você tiver menos do que quando tem mais, se por mais nada, pelo simples fato de que o pouco que você agora tem parece te contentar muito mais.
Encontrar a medida exata do desejo
E não, nenhuma dessas vezes vai ser porque você “cedeu do seu desejo”, mas sim porque você encontrou a exata medida dele. Desejar é também saber perder, do mesmo modo que viajar é também perder países. Nossos desejos são sempre melhores quando não realizados. Ali, quando são esperanças de possibilidades outras, quando são tão maleáveis quanto nossas fantasias, eles são objetos incríveis de desejo. Realizados, podem bem ser tão sem graça que não nos deixam outra opção a não ser abdicar deles.
O desejo como caminho para a autodestruição?
Outras vezes, no entanto, o desejo pode levar à autodestruição. Há quem defenda uma contrariedade à saúde, o desejo ao ponto de despersonalização e afins. Basta procurar os lacanianos para encontrar uma tal defesa. Mas não creio ser esse o caso. Se à época do dr. Jacques, a despersonalização era uma crítica ao capitalismo, hoje é a consumação de sua alienação a ele. O capitalismo não quer identidades, mas diferenças. Seja autêntico e seja o mais imerso no sistema que se pode ser. Não abdique de nada e seja exatamente igual ao consumidor modelo.
Rebeldia racional: desistir também pode ser desejar
Desejar é algo que acontece sempre mais ou menos contra e a favor da maré, uma espécie de rebeldia racional que sabe que mudar as condições só ocorre a partir do triunfo dentro do sistema vigente. Da próxima vez que se vir desistindo de algo ou querendo tal desistência, vale a pena pensar: não seria desistir mais de acordo com meu desejo? A resposta, embora não óbvia, pode te revelar o quanto, a despeito de toda a psicanálise dizendo o contrário, sabes do teu desejo.
Se esse texto trouxe novos insights ou despertou questões que você gostaria de explorar mais a fundo, uma conversa em um ambiente terapêutico pode ser o próximo passo. Sinta-se à vontade para agendar uma consulta e começar esse processo.
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